Eu, o Miguel, a Claudia e a Patrícia, e mais alguns amigos, logo que chegou a Primavera e as temperaturas mais amenas, convidativas à prática do campismo, partimos de mochilas às costas, claro, como não podia deixar de ser levamos também as nossas bicicletas.
O comboio que rumava ao Algarve, deslizava na sua marcha monótona e enfadonha.
-Ufa! Estou farto de ir aqui dentro, Neste andar nunca mais chegamos a Faro, resmungou Miguel, já por si impaciente.
-Tem calma, rapaz. Quanto mais ansioso estiveres, mais longa e demorada te parece a viagem -, avisei-o eu.
Quilometro , após quilómetro, chegámos finalmente a Faro. Cavalgámos nas nossas bicicletas em direcção ao parque de campismo. Rapidamente montamos as tendas.
O comboio que rumava ao Algarve, deslizava na sua marcha monótona e enfadonha.
-Ufa! Estou farto de ir aqui dentro, Neste andar nunca mais chegamos a Faro, resmungou Miguel, já por si impaciente.
-Tem calma, rapaz. Quanto mais ansioso estiveres, mais longa e demorada te parece a viagem -, avisei-o eu.
Quilometro , após quilómetro, chegámos finalmente a Faro. Cavalgámos nas nossas bicicletas em direcção ao parque de campismo. Rapidamente montamos as tendas.
-Passeio de bicicleta...
Depois de termos descansado um pouco, propus que déssemos uma volta de reconhecimento pela zona. O entardecer avizinhava-se e Cláudia e Patrícia preparavam o jantar.
No dia seguinte, acordámos bem dispostos, mas logo a seguir ao pequeno almoço, Miguel queixou-se dumas bruscas dores de cabeça.
-Se vieres que é melhor repousar, hoje não saímos -, sugeri.
-Não são muito fortes, dá para aguentar, sossegou-nos Miguel.
Patrícia é que não se tranquilizou com aquelas palavras e desabafou:
-Cá para mim, a tua saúde não anda muito boa. Ultimamente essas dores de cabeça têm-se tornado bastante frequentes.
-Já te expliquei que é do cansaço -, justificou-se Miguel. Vais ver que no final destas curtas férias as dores passarão.
-Já consultaste algum médico ? -, indaguei.
-Não, respondeu ele
-Mas deves fazê-lo. Mais vale prevenir que remediar -, aconselhei-o eu.
E, nessa radiosa manhã, tal como fora combinado, fomos à descoberta. As nossas bicicletas seguiam numa fila, que era fechada por mim. A dado passo da nossa passeata, apercebi-me que Miguel ia com uma pedalada incerta. Abeirei-me dele e perguntei:
-Não te sentes bem ?
-Não. Estou muito fatigado, respondeu.
Não tive tempo de lhe ordenar que parasse. Nesse instante, Miguel inclinou-se excessivamente e a bicicleta resvalou para a valeta. Como a queda foi um pouco aparatosa, achamos prudente chamar a ambulância para o conduzir à urgência do hospital.
Enquanto Cláudia e Patrícia regressavam ao parque, eu acompanhei Miguel.
-Ainda te sentes cansado ? -, inquiri.
-Sim -, respondeu na sua voz fraca
Eu estava preocupado. Éramos colegas de turma e o ano lectivo não estava a ser muito puxado. A maioria das disciplinas era agradável e as matérias eram acessíveis. Não podíamos, poi, encontrar aqui as razões para a fadiga do Miguel.
E realmente havia motivos para me preocupar. Após uma longa espera por alguma informação concreta, o médico de serviço comunicou-me:
-Estivemos a observar o seu amigo.
-E então ? – era grande a minha expectativa.
-Terá de ficar internado, respondeu o médico.
-Tive nesse momento um sobressalto.
-É grave ?
-Não sabemos ao certo qual o seu estado de saúde. Vamos fazer-lhe as análises necessárias e alguns outros exames.
Nas tendas pairava um ar pesado, fruto da tremenda tristeza que nos ia na alma. Só quando Miguel voltasse para o nosso convívio, teríamos sossego.
Efectivamente, oito dias depois, Miguel teve alta, mas vinha triste, pesaroso. Trazia um semblante carregado e sombrio. Notávamos perfeitamente que se esforçava por nos ocultar a imensa amargura que o dominava.
- Se sois meus amigos, não me façais perguntas -, disse.
-Mas estamos inquietos com a tua melancolia. Assusta-nos essa tua apatia. É como se te estivesses a afastar de tudo e de nós também.
Miguel, levantou-se e, num silêncio que nos sufocava, retirou-se para a tenda, de onde saiu volvidos alguns minutos.
-Se não se importam, eu vou dar uma volta a pé, sozinho.
E Miguel afastou-se.
-Não estou a gostar nada disto -, lamentou-se Patrícia. Miguel nunca havia apreciado andar só.
De facto aquelas atitudes também me intrigavam. O que é que Miguel escondia por detrás daquele mistério?.
Não tardou muito que Patrícia surgisse, com os olhos rasos de água. Entregou-me um papel, escrito pelo amigo e, de imediato desatou a chorar compulsivamente.
-Queridos Amigos, esta foi a melhor forma que encontrei para Vos explicar a profunda angústia que se abateu sobre mim. Assim , não serei forçado a assistir à Vossa compaixão, nem Vós tereis de arranjar desculpas atrás de desculpas, para fugirem de mim. Durante o meu recente internamento, fizeram diversas análises e contra-análises, e a verdade nua e crua é que… sou portador do vírus da Sida. Agora, Adeus, por favor não me procureis.
Mal terminei de ler aquelas palavras, ordenei:
-Peguemos nas nossas bicicletas e vamos em busca de Miguel. Não deve ter ido para muito longe.
Rapidamente distribuímos os percursos que cada um seguiria,
Não foi muito difícil para Patrícia descobrir o paradeiro de Miguel. Avistou-o, solitário, de braços e ombros descaídos, sentado num pequeno muro, com o olhar fitado no mar infinito.
Patrícia acercou-se dele, passou-lhe afectuosamente a mão no ombro e beijou-lhe carinhosamente os longos cabelos negros. Por fim sussurrou:
-Vem comigo.
Miguel nem se mexeu, Ela continuou:
-Preciso de Ti.
Miguel volveu então o olhar para Patrícia e desabafou:
-Para que queres um Amigo que vai morrer?
-Um dia todos morreremos -, ela retorquiu.
-Porém, a doença condenou-me à morte prematuramente, disse Miguel.
-Mesmo que morresses já amanhã, tinhas o direito de continuar a ser amado enquanto vivesses.
-E tu ? -, disse Miguel -, Já pensaste em ti ? Não quero que os meus amigos venham a sofrer mais. Não será justo que se sacrifiquem assim por mim.
-Contrapôs Patrícia -, O meu e o nosso sofrimento será bem maior se teimares em recusar o apoio dos teus amigos. -, Injusto é que queiras impedir-nos de estarmos contigo.
…/…
Miguel, não tinha mais forças para lutar e aceitar os apelos daqueles amigos que tanto o amavam que lhe queriam tanto, mas, também sentia que não podia renunciar àquela imensa partilha de carinho e apoio que lhe estava a ser oferecido, gratuitamente…
…/…
É assim, um tempo de lazer e de passeios de bicicleta , marcados no tempo, onde cada sentimento pelo próximo se mantém vivo em cada um de nós, numa saudade imensa, em tua memória Miguel, meu Amigo…
Depois de termos descansado um pouco, propus que déssemos uma volta de reconhecimento pela zona. O entardecer avizinhava-se e Cláudia e Patrícia preparavam o jantar.
No dia seguinte, acordámos bem dispostos, mas logo a seguir ao pequeno almoço, Miguel queixou-se dumas bruscas dores de cabeça.
-Se vieres que é melhor repousar, hoje não saímos -, sugeri.
-Não são muito fortes, dá para aguentar, sossegou-nos Miguel.
Patrícia é que não se tranquilizou com aquelas palavras e desabafou:
-Cá para mim, a tua saúde não anda muito boa. Ultimamente essas dores de cabeça têm-se tornado bastante frequentes.
-Já te expliquei que é do cansaço -, justificou-se Miguel. Vais ver que no final destas curtas férias as dores passarão.
-Já consultaste algum médico ? -, indaguei.
-Não, respondeu ele
-Mas deves fazê-lo. Mais vale prevenir que remediar -, aconselhei-o eu.
E, nessa radiosa manhã, tal como fora combinado, fomos à descoberta. As nossas bicicletas seguiam numa fila, que era fechada por mim. A dado passo da nossa passeata, apercebi-me que Miguel ia com uma pedalada incerta. Abeirei-me dele e perguntei:
-Não te sentes bem ?
-Não. Estou muito fatigado, respondeu.
Não tive tempo de lhe ordenar que parasse. Nesse instante, Miguel inclinou-se excessivamente e a bicicleta resvalou para a valeta. Como a queda foi um pouco aparatosa, achamos prudente chamar a ambulância para o conduzir à urgência do hospital.
Enquanto Cláudia e Patrícia regressavam ao parque, eu acompanhei Miguel.
-Ainda te sentes cansado ? -, inquiri.
-Sim -, respondeu na sua voz fraca
Eu estava preocupado. Éramos colegas de turma e o ano lectivo não estava a ser muito puxado. A maioria das disciplinas era agradável e as matérias eram acessíveis. Não podíamos, poi, encontrar aqui as razões para a fadiga do Miguel.
E realmente havia motivos para me preocupar. Após uma longa espera por alguma informação concreta, o médico de serviço comunicou-me:
-Estivemos a observar o seu amigo.
-E então ? – era grande a minha expectativa.
-Terá de ficar internado, respondeu o médico.
-Tive nesse momento um sobressalto.
-É grave ?
-Não sabemos ao certo qual o seu estado de saúde. Vamos fazer-lhe as análises necessárias e alguns outros exames.
Nas tendas pairava um ar pesado, fruto da tremenda tristeza que nos ia na alma. Só quando Miguel voltasse para o nosso convívio, teríamos sossego.
Efectivamente, oito dias depois, Miguel teve alta, mas vinha triste, pesaroso. Trazia um semblante carregado e sombrio. Notávamos perfeitamente que se esforçava por nos ocultar a imensa amargura que o dominava.
- Se sois meus amigos, não me façais perguntas -, disse.
-Mas estamos inquietos com a tua melancolia. Assusta-nos essa tua apatia. É como se te estivesses a afastar de tudo e de nós também.
Miguel, levantou-se e, num silêncio que nos sufocava, retirou-se para a tenda, de onde saiu volvidos alguns minutos.
-Se não se importam, eu vou dar uma volta a pé, sozinho.
E Miguel afastou-se.
-Não estou a gostar nada disto -, lamentou-se Patrícia. Miguel nunca havia apreciado andar só.
De facto aquelas atitudes também me intrigavam. O que é que Miguel escondia por detrás daquele mistério?.
Não tardou muito que Patrícia surgisse, com os olhos rasos de água. Entregou-me um papel, escrito pelo amigo e, de imediato desatou a chorar compulsivamente.
-Queridos Amigos, esta foi a melhor forma que encontrei para Vos explicar a profunda angústia que se abateu sobre mim. Assim , não serei forçado a assistir à Vossa compaixão, nem Vós tereis de arranjar desculpas atrás de desculpas, para fugirem de mim. Durante o meu recente internamento, fizeram diversas análises e contra-análises, e a verdade nua e crua é que… sou portador do vírus da Sida. Agora, Adeus, por favor não me procureis.
Mal terminei de ler aquelas palavras, ordenei:
-Peguemos nas nossas bicicletas e vamos em busca de Miguel. Não deve ter ido para muito longe.
Rapidamente distribuímos os percursos que cada um seguiria,
Não foi muito difícil para Patrícia descobrir o paradeiro de Miguel. Avistou-o, solitário, de braços e ombros descaídos, sentado num pequeno muro, com o olhar fitado no mar infinito.
Patrícia acercou-se dele, passou-lhe afectuosamente a mão no ombro e beijou-lhe carinhosamente os longos cabelos negros. Por fim sussurrou:
-Vem comigo.
Miguel nem se mexeu, Ela continuou:
-Preciso de Ti.
Miguel volveu então o olhar para Patrícia e desabafou:
-Para que queres um Amigo que vai morrer?
-Um dia todos morreremos -, ela retorquiu.
-Porém, a doença condenou-me à morte prematuramente, disse Miguel.
-Mesmo que morresses já amanhã, tinhas o direito de continuar a ser amado enquanto vivesses.
-E tu ? -, disse Miguel -, Já pensaste em ti ? Não quero que os meus amigos venham a sofrer mais. Não será justo que se sacrifiquem assim por mim.
-Contrapôs Patrícia -, O meu e o nosso sofrimento será bem maior se teimares em recusar o apoio dos teus amigos. -, Injusto é que queiras impedir-nos de estarmos contigo.
…/…
Miguel, não tinha mais forças para lutar e aceitar os apelos daqueles amigos que tanto o amavam que lhe queriam tanto, mas, também sentia que não podia renunciar àquela imensa partilha de carinho e apoio que lhe estava a ser oferecido, gratuitamente…
…/…
É assim, um tempo de lazer e de passeios de bicicleta , marcados no tempo, onde cada sentimento pelo próximo se mantém vivo em cada um de nós, numa saudade imensa, em tua memória Miguel, meu Amigo…
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