terça-feira, novembro 15, 2005

30 - Estar alerta...

Meus Amigos, porque o Blog foi criado com o intuito de aqui deixar mensagens, umas porque me fazem pensar sobre o dia-a-dia, outras porque decerto modo me dizem algo, algo que sinto muitas das vezes necessidade de partilhar com quem me lê. Assim, mais uma vez aqui deixo algumas palavras por um tema, quer em sinal de alerta, quer porque ao escrever sobre o que se segue me (re)lembra também o que vivi, e o tempo em que tudo para nós começou...

Estar alerta...
Recordo, há uns anos atrás, estava eu em casa, seriam sensivelmente umas 23h45mn, quando a campainha tocou e eu fui à porta. Fui abrir e , lembro-me que chovia torrencialmente e alguém me dizia: -Venha depressa, o seu filho teve um acidente. De repente meu corpo ficou gelado, era a primeira vez que passava por uma situação idêntica, e fiquei praticamente sem reacção. Após colocar os pés no chão e sentir o peso daquela realidade, acompanhei as pessoas que me tinham ido avisar, e dirigi-me ao local do acidente, não muito longe de casa. No momento, voltei um pouco atrás no tempo e veio-me à lembrança que já havia notado que algo não andava bem. Nunca esperamos que as coisas aconteçam com alguém chegado, certo é que me encontrava perante um facto consumado. As noites que eu notava andarem descontroladas, a falta de dormir, o ingerir de substâncias nocivas, tinham levado a uma falta de reacção momentânea a qual contribuiria para o acidente. Parece que estou ali, há onze anos atrás, olhando para o poste de betão partido, o carro capotado, cortado pela traseira, o amontoado da chaparia. Os gritos de aflição misturavam-se com a chuva forte que caía, o cheiro a gasolina espalhava-se pelo ar cujo receio de incêndio nos invadia. Todo o tempo que foi levado pelos bombeiros para desencarceramento me pareceu uma eternidade, jamais essa imagem será apagada de mim. Após alguns meses de recuperação, e longas conversas havidas sobre o sucedido, não me foi difícil reconhecer o quanto eu tinha sido facilitador para que tal acontecesse. Os filhos crescem, e procuramos que nada lhes falte, trocando muitas vezes a atenção devida por bens materiais como se isso tudo resolvesse. Eu sabia, além de ter dado por isso, já me haviam alertado, mesmo em casa era notório que algo não andava bem, e como eu me admirava de ele aos 19 anos andar tão “desmazelado”, sem auto-estima, sem conseguir ter um pouco de tempo para nós… Será que nós tínhamos um pouco de tempo para ele , me pergunto... Levámos tempo a aceitar o que nos estava a acontecer, tanto tempo, tempo mais que demasiado, que foi preciso alguns anos depois acontecer uma “cópia” do primeiro acidente para reflectirmos sobre o que nos estava a acontecer e pedirmos ajuda, quando nós próprios já nos estávamos também a afundar.
Hoje e após 4 anos de aceitação pelo que não podíamos modificar, temos noção do que aconteceu e consciência que a todo o momento pode acontecer uma reversão. No entanto, trocamos a parte facilitadora pelo Amor genuíno, procuramos sempre estar atentos, mas com a consciência de que a nossa experiência é de que a adição constitui uma doença progressiva, que se acaba por caracterizar como se diz, numa doença para toda a Vida. A progressão na mesma pode ser rápida ou lenta mas será sempre para pior, enquanto não se aceitar que se está perante essa realidade. Todos, quer aditos, quer familiares e amigos somos afectados, de uma ou outra forma, a Vida começa a não nos correr bem, a alegria deixa de coexistir, mau humor constante, já para falar em situações de dependência, colmatando exigências com o facilitar tudo o que nos pedem, tantas e tantas vezes sentindo-nos impotentes para tomar a decisão acertada, que passa pela aceitação da doença e enquanto isso não acontece sentirmo-nos fracos perante tal situação, acabando por aceitar o “jogo” que nos fazem o que acontece muitas vezes com contornos de ameaças…
Não quero escrever muito mais, o que a mim me diz muito pode não ter a mesma razão para outras pessoas. Tenho noção que cada caso é um caso diferente. Por mim, não esconderei de ninguém o problema em que me encontrei envolvido, procurando em vez de me refugiar a um canto, procurar dar a conhecer um problema que é de todos nós…
Fiquem bem e tenham um óptimo dia
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Beijokas & Abraços / GW

2 comentários:

  1. Sem palavras... Um beijo muito grande...

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  2. Nem sempre existem explicações para estas coisas. Falta de atenção, destruturação familiar, más companhias, enfim, tudo é possivel...Acho, no entanto, que na adolescencia tudo é possivel...é a fase da experimentação, das loucuras. Por muito que se esteja ligado a um filho, que se esteja atento, nunca sabemos exactamente o que lhe vai "por dentro". Também passei por essa fase, foi dura, muito dura, mas olha...estou cá. :-) beijos

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